O Guardião da Floresta e os Homens que Queimam Tudo

 

🦶🔥 Por Cecília Defresne

No coração da Amazônia, um menino de cabelos de fogo caminha com os pés virados

para trás.

Não, ele não anda pra trás. Ele apenas confunde quem tenta seguir seus rastros

com intenções erradas.

Curupira, o Protetor da Floresta, não nasceu em gabinete com ar-condicionado e wi-fi.

Nasceu do sopro quente do mato, do desespero dos bichos e da raiva dos espíritos silenciados.

Agora, é ele quem carrega a tocha simbólica da COP30, e isso incomoda. 

Incomoda quem acha que “folclore” é coisa menor. Incomoda quem prefere ver a floresta

como commodity e os encantados como piada.

Curupira não é só um personagem do passado. Ele é o presente invisível que ronda as matas,

os assentamentos, os quilombos e os sonhos das crianças que ainda ouvem a floresta antes

de dormir. Sua escolha como mascote não é um capricho: é um recado. Um grito de resistência

com vestes de símbolo lúdico.

Quem zomba do Curupira revela mais sobre si do que sobre o mito. Revela a ignorância crônica

de uma elite política que confunde ironia com inteligência, e desprezo com sofisticação.

Enquanto isso, continuam andando em círculos de retrocesso, sem perceber que são eles

os que andam pra trás.

O Curupira nunca saiu dali. Está em cada árvore tombada à força, em cada bicho que some

sem explicação, em cada indígena que sangra por defender seu território. 

Ele não protege a floresta porque é moda, ou porque há verba internacional;

ele protege porque é o que ele é.

A pergunta que fica, portanto, não é se o Curupira merece ser o mascote da COP30.

A pergunta é:
vocês ainda merecem andar por essas trilhas?

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