🌿 Ailton Krenak e o Futuro que Sangra: O Brasil, a Amazônia e a Faca no Pescoço do Sonho Verde


 

"A COP virou um circo para bilionários. Eu não suportaria o cheiro deles."

No palco em chamas da política ambiental brasileira, Ailton Krenak ergue sua voz como quem

abre clareiras na floresta: com firmeza, poesia e denúncia. Líder indígena, imortal da

Academia Brasileira de Letras e uma das consciências mais lúcidas do nosso tempo, Krenak

não alisa o discurso, nem mesmo para o governo que ajudou a eleger.

Em entrevista recente, ele dispara contra a fragilidade do Ministério dos Povos Originários,

denuncia o Congresso como território tomado por criminosos e desmonta a farsa das

Conferências do Clima, que viraram “balcão de negócios” disfarçado de utopia verde. 

A seguir, o Jornal do Devaneio reuniu os principais trechos da entrevista. Porque ouvir Krenak

não é apenas ouvir um homem: é ouvir uma floresta que ainda respira, mesmo sufocada.

🏹 O ministério sem flecha nem arco

“Se me dessem um ministério sem orçamento, eu iria agradecer, mas não tomaria posse.”

Krenak não poupa palavras ao falar da criação do Ministério dos Povos Originários. Para ele,

a ministra Sonia Guajajara carrega nas costas não uma pasta de poder, mas uma estrutura simbólica,

vazia de recursos e prestígio. Um arco sem corda, uma flecha sem direção.

O gesto político (a criação do ministério) foi celebrado, mas não se traduziu em força institucional.

“Não existe uma forma de realizar o trabalho sem poder político”, afirma. Sem orçamento, sem voz decisiva nas disputas centrais do governo, o ministério se torna mais um ornamento de vitrine do

que uma arma real na defesa dos povos da floresta.

🌊 A mentira do Marco Temporal

“É uma mentira jurídica forjada para que a queda de braço sempre tenda a favor do latifúndio.”

Para Krenak, o Marco Temporal — que limita o reconhecimento de terras indígenas ao que

estava ocupado em 1988 — não passa de uma ficção cruel. Uma armadilha construída para garantir

que os interesses do agronegócio e da mineração avancem, disfarçados de legalidade.

“Os que comandam operações criminosas nas florestas têm mandato de deputado e senador em Brasília”,

denuncia. Não se trata apenas de disputa territorial, mas de um teatro político que transforma

predadores em parlamentares respeitáveis, capazes de circular entre Paris e Nova York enquanto

arrastam o sangue das florestas em seus sapatos.



💔 Amazônia no ponto de não retorno

“A Amazônia mal está conseguindo produzir vida para si mesma.”

O alerta de Krenak é doloroso: o bioma amazônico já não é mais o coração pulsante do planeta

que outrora foi. O ciclo de destruição, impulsionado por políticas extrativistas e ganância desmedida,

aproximou a floresta do chamado ponto de não retorno, um colapso ecológico irreversível.

A mitologia de que a Amazônia salvará o planeta precisa ser revista. “Do ponto de vista climático,

a gente não consegue mais reverter o prejuízo que causamos ao planeta”, sentencia. Agora,

o que resta é mitigar danos, preservar o que ainda respira e repensar radicalmente o que

entendemos por desenvolvimento.

🎪 COP30: circo para bilionários, não para iniciantes

“Eu não suportaria o cheiro dos bilionários.”

A COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém, poderia ser uma grande oportunidade para

o Brasil reafirmar seu compromisso com a vida. Mas Ailton Krenak vê o evento com olhos abertos

e nariz sensível: para ele, a conferência se tornou um espetáculo performático onde a pauta

ambiental é coadjuvante, e o capital corporativo reina como mestre de cerimônias.

“Aquele circo não é para iniciantes”, dispara, com ironia afiada. Os povos originários, diz ele,

estarão sub-representados, esmagados pelo custo da participação, pela linguagem técnica excludente

e pela estrutura montada para servir CEOs, não pajés.

O que era para ser um espaço de reconstrução do pacto ecológico global se converteu em balcão

de negócios, onde o carbono é mercadoria, e a floresta é pano de fundo para selfies diplomáticas.

Mesmo movimentos indígenas internacionais tentam pressionar por um espaço mínimo de relatoria;

mas, segundo Krenak, muitos nem cogitam ir, por não acreditarem na relevância do documento final.

A COP virou um espelho: não reflete a Terra que queremos salvar, mas o mercado que

não conseguimos confrontar.






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