📚 A Nova Fogueira: Quando os Livros Viram Alvo e a Ignorância se Fantasia de Moral


— Por Bruno Stael para o Jornal do Devaneio

Nos Estados Unidos, o país que costuma se autoproclamar a "maior democracia do mundo",

uma silenciosa, mas violenta cruzada contra o pensamento está em curso. Desde 2021,

mais de 16 mil proibições de livros foram registradas em escolas públicas, segundo a associação

PEN America. O número, que parece saído de um romance distópico ou de um pesadelo censório

dos anos 1950, está sendo protagonizado por grupos conservadores que fazem do medo

sua bússola moral.

Mas o que se teme tanto? As páginas que falam de corpos não brancos, de existências LGBTQIA+,

de experiências de trauma, violência ou reflexão crítica. A literatura que ousa mostrar o mundo

como ele é — múltiplo, complexo, imperfeito — está sendo apagada das estantes em nome de

uma “pureza” imaginária.

Entre os títulos mais visados, estão obras como O Conto da Aia, de Margaret Atwood, que narra

um regime totalitário teocrático onde as mulheres são propriedades do Estado. A ironia da censura

a esse livro parece ter escapado aos censores. Também foram atacados Dezenove Minutos, de

Jodi Picoult, e Quem é você, Alasca?, de John Green — romances que dialogam com o desespero

e a solidão da juventude, propondo escuta e empatia.

A caçada se estende a obras de Toni Morrison, vencedora do Nobel, cuja escrita honra as vozes

negras da América. A presença constante de seus livros nas listas de "mais contestados" nos

lembra que a censura nunca é neutra: ela é seletiva, política, racializada e moralista.

📖 Enquanto isso, a American Library Association denuncia que só em 2024 mais de

2.452 títulos foram alvos de campanhas de remoção em bibliotecas. Muito acima da média histórica

de 273 entre 2001 e 2020. Estamos vivendo um novo tipo de queima de livros, sem fogo visível,

mas com as mesmas cinzas simbólicas.

O que está em jogo não é apenas o direito de ler, mas o direito de existir plenamente nas páginas.

Quem controla as estantes, molda o imaginário. Quem apaga livros, tenta apagar vidas.

No Jornal do Devaneio, resistimos com palavras. Somos aliados das estantes rebeldes, dos

bibliotecários insurgentes, dos leitores que sublinham verdades perigosas. Nossa tinta é devaneante,

mas a denúncia é real.

Que nenhum livro seja esquecido.
Que nenhuma história seja silenciada.
E que nossas bibliotecas, físicas ou simbólicas, sigam abertas à multiplicidade humana.

📌 Poste, compartilhe, leia, questione.
Porque onde há censura, há algo que precisa ser lido com urgência.


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