📜 Crítica à Amizade Rasa
por Pablo Hernandéz
O algoritmo nos comeu.
Desculpem o termo, mas sim.
Nos mastigou, nos engoliu, nos regurgitou em pedaços de conteúdo com no máximo
15 segundos de duração.
As pessoas estão perdendo a capacidade de ler textos com mais de três parágrafos.
E para onde isso nos levará?
Abro aqui um ensaio-crítica, ou talvez só um desabafo de um homem que ainda escreve cartas.
Outro dia, enviei uma longa mensagem a uma amiga de ainda mais longa data.
Na carta, expus sentimentos íntimos, reflexões existenciais,
filosofias de vida,
uma tentativa de me comunicar com profundidade,
mesmo correndo o risco de soar “demais”.
A resposta que recebi foi uma punhalada:
“Não posso ler.”
Essa frase me atravessou.
Meu cérebro disparou em análises —
a falência da leitura no Brasil,
a atrofia cognitiva gerada por vídeos curtos,
o esvaziamento das relações humanas.
Curiosamente, essa mesma amiga falava, há pouco, sobre os perigos da inteligência artificial,
sobre como os modelos de linguagem são “perversos”, “invasivos”, “desumanos”.
Eu entendo a crítica. Compartilho de parte dela.
Mas não consegui ignorar a ironia:
Nenhum desses modelos jamais me respondeu com um “não posso ler”.
Ignorado fui.
Ignorando sigo… cada vez mais as pessoas.
Este ensaio, como a maioria das relações humanas, não tem conclusão.
E talvez nunca tenha mesmo.
Comentários
Postar um comentário