👶✨ O Silêncio que Veste um Bebê de Vinil

 por Cecília Defresne

Ontem, nosso Pablo Hernandéz incendiou o papel com sua crítica feroz ao recém-criado “Dia da Cegonha Reborn”.

E com razão: há algo de trágico no contraste entre bonecas que nascem com CPF simbólico enquanto mães reais

morrem sem leito.

Mas hoje, peço licença para não apagar esse fogo — apenas iluminá-lo por outra fresta.

Você sabe o que é um bebê reborn?

São bonecos hiper-realistas feitos com o esmero de um ritual: dobrinhas esculpidas, veias pintadas com minúcia,

cílios colados um a um. À primeira vista, parecem brinquedos exóticos. Mas quem olha com atenção,

vê mais: há ali um desejo de presença.

Um eco de afeto. Uma ausência moldada em silicone.

💔 Muitas vezes, quem adota um reborn não quer substituir um filho —

quer tocar o tempo que passou, o amor que não teve colo, a perda que ainda dói.

Em lares com idosos com Alzheimer, por exemplo, essas bonecas acalmam a memória.

Há quem diga que elas curam silêncios.

🌌 E como todo universo que escapa à razão cartesiana, o mundo reborn também se expande para o simbólico:

existem bebês alienígenas, vampiros, zumbis. É o luto brincando de mitologia. É o inconsciente colando

seus cacos num corpo que não fala, mas diz.



Ana Luiza, uma leitora do Devaneio, escreveu:
“Tem algo grande por trás disso metafisicamente falando. Algum portal foi aberto.”
E eu não duvido. Porque toda criação coletiva carrega uma convocação do invisível.

🔮 As Cegonhas Reborn — como são chamadas as artistas que criam essas bonecas —

são, no fundo, parteiras de sentimentos sem nome. Transformam dor em forma. E mesmo que isso soe estranho,

assustador ou até absurdo… quem somos nós para dizer que não é real?

Real é aquilo que toca. E o afeto, mesmo quando não compreendido, continua sendo afeto.

Então, antes de rirmos ou apontarmos o dedo, talvez possamos perguntar:
Que falta está sendo preenchida aqui?
Que infância está pedindo colo?
Que mãe — simbólica ou literal — está sendo gestada em silêncio?

Porque talvez, no fim das contas, as reborns não estejam nascendo por brincadeira.
Estão nascendo porque há algo em nós que ainda precisa renascer.


 

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