🗞️ 📉 "O processo é seletivo. A empatia, nem tanto", por Pablo Hernandéz



Hoje, a crítica não é a uma peça de teatro, nem a um filme mal encenado

— embora pareça ser. Hoje, a crítica é a esse teatro corporativo em que

transformaram o mercado de trabalho.

Enquanto o desemprego grita alto nas esquinas do país, há empresas oferecendo um

show de horrores em cinco atos: formulário quilométrico, entrevista com RH, entrevista

com gestor, case “criativo”, dinâmica de grupo e, se o candidato ainda estiver respirando,

uma última etapa — a decepção. O cachê? Dois mil e quinhentos reais, sem VT, VR ou respeito.

O espetáculo é grotesco. Candidatos com anos de experiência mendigando um retorno,

sendo deixados no vácuo por recrutadores que somem como em um truque barato de mágica.

O mínimo que se esperava era uma resposta. Mas até isso virou luxo.

A crueldade é tratada como padrão.

E a ironia? Muitos desses processos são conduzidos por empresas que pregam “empatia”

em suas redes sociais. Mas ao menor contato do candidato pedindo retorno, torcem o nariz.

Que feio incomodar o RH com expectativas humanas, não é?

Do lado de cá, profissionais brilhantes passando fome, aceitando migalhas por desespero.

Do lado de lá, gestores encastelados exigindo criatividade sob pressão, com salário de estágio

e zero transparência.

A plateia? Nós. Exaustos. Apáticos. Aplaudindo de pé um mercado que trata gente como

recurso descartável.

Não é só falta de vaga. 

É falta de humanidade.

📌 Pablo Hernandéz é crítico cultural, emocionalmente saturado e cronista do

absurdo contemporâneo.

Assina sua coluna no JD entre surtos e goles de café requentado.


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