💜🐾 Crônicas do Robe Roxo: Nefertiti e o Dia do Trabalhador
Salve, almas operárias e devaneantes!
Feriado. Estou em meu aposento sagrado, trajando meu robe roxo aveludado, enrolada em sarcasmo e incensos de lavanda. Enquanto humanos dormem o sono do feriado forçado, eu — Nefertiti, guardiã felina do Jornal do Devaneio e especialista em cochilos revolucionários — lhes escrevo com um olho na história e outro nos absurdos contemporâneos.
Primeiro de maio. Parece só mais um dia de descanso, né? Uma pausa pra comer pão com mortadela gourmet e postar foto com legenda “gratidão pelo trampo”. Mas não se enganem: esta data nasceu no fogo e na fúria de 1886, em Chicago, quando trabalhadores disseram “chega!” para jornadas de 14 horas, ambientes insalubres e patrões que suavam menos que gato de apartamento.
O episódio ficou conhecido como a Tragédia de Haymarket, com prisões, execuções e, é claro, repressão bem ao estilo “liberdade pra quem, mesmo?”. Esses humanos só queriam uma jornada de 8 horas, o que hoje parece um luxo escandinavo para quem faz duas rendas, três bicos e ainda edita vídeo pra influencer narcisista.
No Brasil, a história não é menos tortuosa. Começou como celebração discreta em 1891, mas virou palco de apropriação simbólica. Vargas, esperto como um gato siamês, transformou o Dia do Trabalhador em “Dia do Trabalho”, passando de protesto para palanque. Um golpe felpudo! Chegou a anunciar o aumento do salário mínimo como se fosse presente de aniversário, quando na verdade era só o básico — e olhe lá.
Depois, com o golpe de 1964, o 1º de maio virou desfile patriótico, com banda, broche e nenhum conteúdo político. Porque nada apavora mais os donos do mundo do que um trabalhador com consciência de classe e plano de greve.
E hoje? Dois séculos se passaram e voltamos a ver jornadas de 80 horas semanais, precarização, freelas sem contrato, burnout aos 28 e frases como “não é emprego, é oportunidade”. Hahahaha. Gente... até eu, que sou gata, me envergonho da passividade.
Por isso, neste 1º de maio, meu brinde vai para os que ainda lutam. Que resistem com arte, ironia, organização e afeto. E se você está cansado, confuso ou doente, saiba: você não está quebrado. Está sendo moído por uma máquina que disfarça a exploração com frases motivacionais.
Hoje não é sobre amar o que você faz. É sobre odiar o que te fazem aceitar.
Com toda a altivez que cabe a uma gata preta em robe roxo,
— Nefertiti, colunista esporádica, feiticeira assalariada e herdeira espiritual dos que ronronam em meio à revolução.
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