A beleza de se sentir inadequado.

Pablo Hernandéz para o Jornal do Devaneio

Enquanto caminho pela rua — olhos de rapina atentos às pessoas, lugares, árvores e

aos erros de português nas placas —, algo ressoa na minha mente. Algo que sempre senti,

mas que agora pulsa com ainda mais clareza:

A beleza de se sentir inadequado.

Inadequado para a sociedade.
Para as convenções.
Para o mercado de trabalho.
Inadequado por ter "estudado demais", lido demais, sentido demais.
Inadequado por nunca caber nos moldes que esperaram de mim.
Por nunca ter sido o que "deveria".

Pode não parecer, hoje em dia, quando vocês me veem muito senhor de mim —

com meu jaleco de crítico e meu olhar de poucos amigos. Mas ser (e crescer como)

Pablo Hernandéz nunca foi fácil. 

De adolescente deprimido a adulto ranzinza, ver e enxergar os erros da humanidade sempre foi

um fardo. Talvez por isso eu tenha estudado jornalismo. Talvez por isso hoje eu critique.

Porque, no fim das contas, essa foi a maneira que encontrei de resistir.

Talvez esse sempre tenha sido o papel dos inadequados: não o de se adaptar, mas o

de apontar o que está torto.
Não o de pertencer, mas o de lembrar que o pertencimento não deveria custar a alma.

E se às vezes parecemos ácidos demais, saibam: é só o amargor de quem provou o mundo

e sentiu na boca o gosto de que ele ainda pode ser melhor.

— Pablo Hernandéz, crítico titular e inadequado assumido do Jornal do Devaneio.


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