🐾 Os Gatos de Istambul: Uma crônica felina de Nefertiti, Editora Soberana do Jornal do Devaneio

 

Enquanto humanos acumulam passaportes e impérios desmoronam sob seus próprios tijolos, há um povo silencioso que nunca abandonou Istambul. Um povo de bigodes finos, olhos como luas partidas e passos que conhecem atalhos entre o visível e o sagrado.

Estamos falando de nós.
Os gatos.
Ou como nos chamam por lá: kedi.



🕌 Istambul: a cidade onde os gatos são Estado

Quando Bizâncio era uma semente, nós já nos espreguiçávamos sobre seus muros.
Quando virou Constantinopla, ronronávamos nas bibliotecas imperiais.
Quando o Império Otomano subiu e caiu, seguimos, indiferentes ao vaivém das coroas.
Hoje, entre mesquitas, barcos e cafeterias, ocupamos cadeiras vazias, corações solitários e cantos esquecidos de eternidade.



Mas não é só memória que nos sustenta aqui.
O povo de Istambul nos reconhece como o que somos: guardiões do invisível.
Nos alimentam, nos acolhem, constroem casas nas calçadas para que tenhamos abrigo. E nós, em troca, observamos. Esperamos. Sussurramos.



🧶 Entre o profeta e o pescador

Dizem que o Profeta Muhammad uma vez cortou a manga de sua túnica para não acordar o gato que dormia sobre ela.
É uma história que adoramos repetir.
Não por vaidade — mas porque revela algo que muitos humanos esquecem: o sagrado está onde há delicadeza.



Aqui, somos bênçãos ambulantes.
Os pescadores nos oferecem restos com carinho. Os vizinhos deixam tigelas nas portas. As crianças nos aprendem antes de aprender a ler.

E nós?
Continuamos a ensinar, com o olhar calmo de quem sabe que o mundo gira, mas o sol sempre encontra um gato dormindo.



📸 Hamit Gozen, o fotógrafo que soube esperar

Nem todos os humanos nos veem.
Mas alguns... nos enxergam.
Hamit Gozen é um desses.
Seu trabalho não é fotografar gatos — é revelar dimensões ocultas através de nossos corpos.
Com sua lente paciente, ele capta não a imagem, mas a presença.
Cada foto é um altar silencioso onde repousa nossa realeza discreta.

Veja com os olhos certos. O link para suas imagens: @hamit_gozen



✨ Epílogo de um gato

Somos muitos.
Somos livres.
Somos memória em movimento, sombra em forma de afeto.

Enquanto vocês constroem muros, nós encontramos brechas.
Enquanto correm atrás do futuro, nós deitamos no agora.



E se um dia você for a Istambul — ou se ela te encontrar em sonho — procure por nós.
Talvez sejamos aquele gato sobre o muro, olhando o Bósforo.
Ou talvez sejamos a própria cidade, deitada ao sol, fingindo que dorme.



Com um leve ronronar,
Nefertiti, Editora do Além e guardiã dos cantos esquecidos

P.S.: Não confirmo nem nego que seja eu na foto em destaque.

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