A FESTA NÃO É MAIS NOSSA
Por Pablo Hernandéz
Há quem diga que os festivais de música estão cada vez piores. Que a curadoria é preguiçosa, que os nomes são esquecíveis, que os line-ups parecem saídos de playlists feitas por algoritmos adolescentes em crise hormonal.
Mas e se o problema não for o festival?
E se, veja bem, nós é que envelhecemos?
Não me entenda mal: eu amo música. Cresci colando pôster na parede, pirateando discografias inteiras por conexão discada e acreditando que ir a um festival era um rito de passagem, quase uma prova espiritual de resistência. O corpo suado, o tênis atolado na lama, o som estourando nos tímpanos — era arte e sobrevivência, tudo ao mesmo tempo. Hoje, um ingresso custa R$ 1.050 e, sinceramente, só de pensar em multidão eu já preciso tomar um anti-inflamatório.
O Lollapalooza 2025 encerrou sua edição neste domingo com uma pergunta retumbando nos ouvidos calejados de quem já passou dos 30: a música mudou ou fomos deixados para trás?
Olivia Rodrigo, a musa do pop-zangado da Geração Z, levou milhares às lágrimas — mas não às minhas. Girl in Red ergueu bandeiras e vozes sob um arco-íris simbólico, e confesso que vibrei com a imagem. Mas a maioria das atrações parecia saída de uma aba de "tendências" que não me pertence mais. TikTok é o novo rádio, e nele, um "one-hit wonder" dura menos que o tempo de um refrão.
A conta não fecha: o público jovem preenche os gramados, mas quem tem grana pra pagar os ingressos somos nós, os "velhos". Em resposta, os festivais tentam o malabarismo da nostalgia — Alanis Morissette, Justin Timberlake — como se uma faixa de 2004 fosse suficiente pra nos fazer esquecer o preço do estacionamento e do espetinho gourmet — e como se tivéssemos esquecido tudo o que ele fez com Britney.
Mas talvez o mais desconfortável seja perceber que não somos mais o público-alvo. E tudo bem. A festa nunca foi feita para durar para sempre. O som muda, os corpos dançam diferente e a câmera do celular virou plateia.
O problema não é que os festivais estejam ruins. É que a juventude é uma língua que já não falo com fluência.
E mesmo que eu ainda goste de dançar, há algo em mim que se encolhe toda vez que percebo que virei... plateia de mim mesmo. O velho espectador que já viu de tudo — e agora observa, meio cético, meio saudoso, a nova geração tomar o palco com brilho nos olhos e fôlego de sobra.
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