A arte de não saber tudo
Por Cecília Defresne
Há uma delicadeza quase sagrada em não ter certezas. A enigmática e famosa frase de Sócrates — “só sei que nada sei” — continua sendo, talvez, o maior ato de coragem intelectual.
John Keats disse, uma vez, que “o único meio de fortalecer o intelecto é manter a mente aberta como uma estrada” — sem portões, sem muralhas, sem dogmas a cercar os pensamentos que chegam como brisas ou tempestades. Não ter opiniões rígidas sobre nada. Eu acredito nisso com a mesma fé com que confio nas palavras: aprende-se com tudo, com todos, em qualquer dobra do tempo.
O estudo é só um dos nomes que damos ao ritual da transformação. Às vezes vem num livro sublinhado, às vezes numa conversa à toa com um desconhecido no ônibus. O mundo está o tempo todo tentando nos ensinar algo — mas a maior parte das pessoas está ocupada demais tentando provar que já sabe.
Vejo gente querendo colecionar títulos como quem junta brasões de guerra. Mas a vida — ah, a vida — quer outra coisa: quer presença, quer sensibilidade, quer escuta. O mundo não precisa apenas de elites intelectualizadas. Precisa de pessoas plenas, que tenham mergulhado tanto no saber quanto em si mesmas.
Saber não é acúmulo. É alquimia.
É transformar o que se sabe em algo que pulsa, que serve, que toca.
E isso, meus queridos, não se aprende nos salões dourados da academia — mas nos desvãos da vida, onde a poesia espreita.
🌒
— Cecília
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