1º DE ABRIL – ENTRE DEUSAS, BOBOS E ILUSÕES
O dia 1º de abril, conhecido hoje como Dia da Mentira ou Dia dos Bobos, tem raízes muito mais profundas do que as pegadinhas que se espalham pela internet. Antes de ser um convite para enganar os desavisados, esta data foi marcada por celebrações místicas, transições de poder e rituais de transformação que transitavam entre o amor, a sorte e o caos.
🌿 VÊNUS, FORTUNA E AS DEUSAS DO EQUILÍBRIO
No mundo romano, este era o dia da Venerália, festival dedicado a Vênus, padroeira da beleza, do desejo e do amor. Mulheres adornavam suas estátuas com joias e flores, pedindo sorte e harmonia em seus relacionamentos. Em ritos paralelos, as deusas Fortuna Virilis e Concórdia também eram invocadas – uma para garantir sorte no amor, outra para assegurar equilíbrio nas famílias.
Essa conexão entre beleza e engano, amor e ilusão, ressoa até hoje: o que é a sedução senão um jogo de aparências?
💀 BLATHNAT, KALI E A FACE ESCONDIDA DO 1º DE ABRIL
Enquanto Vênus regia os pedidos por amor, outras figuras divinas ocupavam este dia com um tom mais sombrio. Na Irlanda, era celebrado o culto a Blathnat, a pequena flor, uma deusa ligada tanto à sexualidade quanto à morte – uma dualidade refletida em sua contraparte britânica, Blodewedd, uma mulher criada a partir de flores que se tornou um símbolo de traição.
No Egito, este era o dia de Hathor, a deusa lunar, cujo papel oscilava entre o acolhimento maternal e a destruição feroz. Já na Índia, o dia era consagrado a Kali, a devoradora de ilusões, a destruidora que abre caminho para o renascimento.
O que essas deusas nos dizem? Que toda transformação requer uma morte simbólica – seja de velhas crenças, máscaras ou até mesmo das certezas sobre o mundo.
🎭 A MENTIRA COMO JOGO E TRAPAÇA
O Dia da Mentira, como o conhecemos hoje, começou na França do século XVI, quando o Ano Novo foi deslocado do equinócio de março para 1º de janeiro. Muitos resistiram à mudança e continuaram a celebrar a virada do ano em abril – tornando-se alvos de zombaria e trotes. Assim nasceu o "Poisson d’Avril" (Peixe de Abril), tradição em que franceses colavam discretamente figuras de peixe nas costas dos outros, símbolo daqueles que "caíram na rede".
Nos países nórdicos, o dia é regido pelo deus Loki, o trapaceiro, e há um detalhe interessante: segundo antigas tradições, brincadeiras e pegadinhas eram permitidas apenas até o meio-dia. Esse costume tem raízes controversas, pois em certas épocas e lugares, o 1º de abril era o dia em que pessoas internadas em manicômios eram soltas nas ruas, expostas ao escárnio público – um lembrete sombrio de como a linha entre humor e crueldade pode ser tênue.
🔮 O QUE RESTA DEPOIS DO ENGANO?
Seja através das deusas do amor e da morte ou das pegadinhas que nos fazem rir (ou nos deixam paranoicos), o 1º de abril nos convida a refletir sobre os jogos que regem nossas vidas. Em um mundo saturado de informações e manipulações, a mentira e a verdade se tornam armas de poder. Mas, como diria Kali, toda ilusão deve ser destruída para que algo novo nasça.
E então? Hoje, você dança com Vênus ou com Loki? É o bobo da corte ou o trapaceiro?
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Vênus de Sandro Boticelli |
Fonte: “ O Anuário da Grande Mãe”, de Mirella Faur.
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