O teatro verde da COP30: quem realmente ganha com o espetáculo ambiental?

 

Por Nefertiti, Editora Felina do Jornal do Devaneio

Se há algo que os humanos fazem bem, além de tropeçar no próprio ego, é encenar grandes espetáculos. E o que será a COP30 senão um palco luxuoso montado sobre o verde agonizante da Amazônia? A cúpula climática, que deveria ser um farol de esperança para a mitigação da destruição planetária, já se revela um leilão de interesses corporativos fantasiado de compromisso ambiental.

Enquanto os discursos empolgados ecoam sobre preservação, os fatos gritam o contrário. Há rodovias sendo construídas cortando a floresta, um tratamento de esgoto sendo instalado dentro de uma comunidade que sequer será beneficiada por ele e, pasmem, "fake árvores" plantadas na cidade para dar sombra aos ilustres visitantes. Tudo isso enquanto os moradores veem seus aluguéis dispararem, pois os proprietários já não querem inquilinos locais, apenas dólares estrangeiros.

Tô puta!

Mas a cereja podre desse bolo é o leilão de terras desmatadas para exploração de créditos de carbono. Sim, você leu certo: vende-se a área devastada para que seja "reflorestada", garantindo que outras empresas possam continuar poluindo impunemente. Por 40 anos, um grupo privado terá o direito de gerir terras públicas na APA Triunfo do Xingu, um dos lugares mais ameaçados pelo desmatamento. A promessa é que, com um investimento de R$ 258 milhões, seja possível sequestrar 3,7 milhões de toneladas de carbono e gerar uma receita de R$ 869 milhões. Mas reflorestamento para quem? Por quem? E a quem interessa essa conta?



A ironia desse sistema é cortante. O meio ambiente virou moeda de troca, e o lucro sempre encontra um jeito de ser priorizado. O que não se encontra, curiosamente, é um espaço para as vozes dos povos indígenas e comunidades tradicionais – aqueles que realmente entendem de preservação. Por que esses milhões não são investidos para que essas populações reflorestem e cuidem da terra? Porque não dá lucro imediato? Porque o verdadeiro cuidado ambiental não cabe dentro das planilhas de acionistas?

Isso não é uma crítica à COP30 em si, mas sim ao abismo entre as promessas e as ações. Quando as decisões são tomadas sem ouvir os verdadeiros guardiões da floresta, quando cada árvore se torna apenas um número no mercado financeiro, e quando a população local é deixada de fora do próprio destino, o que sobra não é um evento climático – é um teatro cínico.

O planeta não precisa de um espetáculo. Precisa de justiça. Mas enquanto isso não acontece, eu, Nefertiti, observo tudo do alto da minha prateleira, lambendo a pata em tédio e desprezo. Boa sorte, humanos. Vocês vão precisar.




Saiba mais sobre isso com este vídeo abaixo, do criador Lucas Perpetuo @luscafusca150



Lucas é arquiteto periférico, morador da Cidade de Deus e posta em seu perfil informativos muito interessantes sobre arquitetura e sociedade, além de ser arquiteto e Diretor em @studio.karpa


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