O CUSTO DO DESCARTE: PESSOAS, PRODUTOS E A ILUSÃO DA ESCASSEZ

 

Por Pablo Hernandéz

Vivemos em um mundo onde uma camiseta não vendida merece mais dignidade do que certas vidas. Pense nisso: empresas destroem toneladas de produtos novos porque, veja bem, se eles fossem doados ou vendidos a preços mais baixos, o mercado entraria em colapso. Melhor rasgar roupas, triturar eletrônicos e deixar comida apodrecer a permitir que qualquer um tenha acesso a bens sem pagar o preço cheio.

Mas sabe o que também é tratado como descartável? Pessoas. Especialmente aquelas que fogem do roteiro normativo da sociedade.

Hoje, 25 de março, é o Dia Nacional do Orgulho Gay, e, como sempre, ouvimos os mesmos discursos bonitinhos de aceitação e diversidade. Empresários com avatar de arco-íris, políticos postando frases que seus assessores escreveram e campanhas publicitárias inclusivas. Mas quem realmente liga? Quem está disposto a pagar o preço pelo respeito? Porque, no fim das contas, quando ninguém está olhando, o sistema continua funcionando como sempre: produtos são jogados fora e pessoas são descartadas.

Ser LGBTQ+ não é uma tendência sazonal. Não é uma campanha de marketing que dura 30 dias. Mas a sociedade capitalista trata como se fosse. Apoia-se a diversidade quando ela dá lucro; ignora-se quando custa algo. No Brasil, corpos LGBTQ+ são brutalizados enquanto milhões são gastos para garantir que um iogurte fora da validade não chegue às mãos de quem precisa. A engrenagem é implacável: produtos, ideias e seres humanos são jogados no lixo com a mesma frieza matemática.

E não me venham com o discurso de que "é assim que o mercado funciona". Porque o mercado só funciona assim porque nós aceitamos essa lógica absurda. Se os donos do capital pudessem lucrar com a homofobia, estariam vendendo camisetas com slogans reacionários sem piscar. Se o respeito fosse um negócio rentável, CEOs dariam palestras emocionadas sobre diversidade enquanto despejavam produtos perfeitamente bons no lixão.

Mas não se preocupem. Pelo menos as marcas ainda vão postar algo colorido no próximo Mês do Orgulho. Afinal, até a inclusão tem sua validade. E, assim como qualquer produto encalhado, quando o lucro some, o apoio some junto.

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