O Crepúsculo da Leitura

 Por Pablo Hernandéz

🎩 Pablo Hernandéz, professor de História, pensador incansável e crítico implacável, estreia hoje sua coluna no JD. Dono de um olhar afiado e de opiniões que não pedem licença, ele não tem medo de dizer o que pensa — e, honestamente, não faz questão de ouvir o que os outros pensam.


Vivemos tempos sombrios. Tempos em que a palavra escrita, outrora sagrada, é descartada como um panfleto qualquer ao vento. O hábito de ler — essa atividade que exige paciência, reflexão e uma capacidade mínima de concentração — tornou-se uma relíquia de eras passadas, um vestígio arqueológico em meio ao entulho digital da era da informação. A ironia? Nunca se escreveu tanto, nunca se publicou tanto, e, ainda assim, nunca se leu tão pouco.

O leitor moderno, se é que podemos chamá-lo assim, não lê. Ele escaneia. Passeia os olhos por frases soltas, por títulos apelativos, por resumos que prometem “tudo o que você precisa saber” em três parágrafos. Ele se contenta com manchetes e se considera informado por tweets. Ele busca a digestão instantânea do conhecimento, como se a sabedoria fosse fast-food. Eu sinto pena do brasileiro que lê pouco... é uma alma pequena. E assim, a profundidade se esvai, a reflexão se dissolve, e o pensamento crítico torna-se uma ruína esquecida.

Pior ainda, quem se dá ao trabalho de escrever precisa submeter-se a essa decadência. Artigos são encurtados, palavras são simplificadas, ideias são diluídas para que caibam em pequenos retalhos de atenção. O autor já não escreve para ser compreendido, mas para não ser ignorado. E nessa corrida pela relevância, o que se perde é a essência da leitura: o prazer do texto bem construído, da argumentação desenvolvida, da jornada que exige tempo e dedicação.

Mas não me levem a mal — sei que este texto, para muitos, já é longo demais. Alguns já devem ter parado no segundo parágrafo, outros talvez tenham vindo direto para este último, na esperança de encontrar um resumo ou uma conclusão mastigada. Pois bem, aí está: as pessoas não leem mais, e isso, meus caros, é um dos maiores fracassos de nossa época. E se você leu até aqui, parabéns. Há esperança para você.

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