📜 Crônica do Rato de Cartola: "Café Quântico, Arquivos e Dimensões Perdidas"
Os ponteiros do relógio cósmico marcavam uma hora inexistente quando cheguei à redação do Jornal do Devaneio. Minha cartola estava levemente torta – culpa do vento dimensional que sopra nas manhãs de terça-feira –, mas nada que um ajuste rápido não resolvesse.
O Arquivista Sem Nome já estava no seu canto, empilhando papeis invisíveis e organizando dossiês sobre eventos que ainda não aconteceram. Sua silhueta oscilava entre o tangível e o efêmero, como sempre.
— Um dia desses, esses documentos vão te engolir, meu caro – comentei, pulando para minha mesa.
Ele me olhou com aquele rosto indefinido, sem olhos, sem boca, mas cheio de expressões.
— Melhor ser engolido pelos arquivos do que pelo vórtice temporal da copa – respondeu, apontando para a máquina de café.
Suspirei. Desde que a cafeteira foi atualizada com o café quântico, ela tem servido doses imprevisíveis. Ontem, despejou um café tão forte que acelerou meu metabolismo ao ponto de eu ver o futuro por três minutos. Hoje, saiu um líquido espesso que cheirava a nostalgia e lembrava a infância de alguém que nunca conheci.
— E as manchetes de hoje? – perguntei, mordiscando uma caneta (sou um rato de hábitos).
— Uma ruptura no espaço-tempo foi detectada na seção de horóscopos – ele respondeu, revirando um pergaminho. – Parece que Aquário e Sagitário trocaram de signos por algumas horas.
— Clássico. Algum dano colateral?
— Apenas um poeta aquariano que acordou com tendências extremamente práticas e abriu uma empresa de contabilidade.
Anotei no meu bloco de notas. Isso renderia uma excelente matéria.
A rotina na redação do Jornal do Devaneio nunca é monótona. Entre cafés quânticos completamente imprevisíveis e buracos no tecido da realidade, seguimos documentando o impossível. Afinal, alguém precisa.
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